Sete palmos de terra e um caixão, em Guimarães

Planisfério Terrestre de Cláudio Ricardo, 1630

Um poema musicado por Chico Buarque em 1965 para a peça de estreia do Teatro da Universidade Católica de São Paulo - Morte e Vida Severina, na dramatização de Roberto Freire para o texto homónimo de João Cabral de Melo Neto - voltou ontem a subir à cena, no Convento das Dominicas, em Guimarães, inserido na apresentação pública do resultado de uma oficina de criação performativa, sob o tema "O consolo de si", que Inês Lago dirigiu e Manuel António Pereira  produziu. O poema - "O Funeral do Lavrador", aquele que diz que "Não é cova grande, é cova medida // e a terra que querias ver dividida" - trouxe-me à memória um outro brasileiro, Josué de Castro, um médico que é mais recordado como  cientista social e como presidente da FAO, a organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, autor nesse ano de 1965 de um ensaio que muito influenciou a minha formação política, "Sete palmos de terra e um caixão". O teatro tem destas magias e só por esta memória, misturada com outras, como a da cantiga do Zeca Afonso de homenagem ao pintor José Dias Coelho ("a morte saiu à rua num dia assim"), valeu a pena ter ido a Guimarães ver e ouvir "O consolo de si".